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Betty Gofman passeia com as gêmeas Alice e Helena na Lagoa Rodrigo de Freitas

Betty Gofman passeia com as gêmeas Alice e Helena na Lagoa Rodrigo de Freitas nov, 2 2025

Na manhã de um dia comum no Rio de Janeiro, Betty Gofman caminhava tranquila ao lado da Lagoa Rodrigo de Freitas, segurando uma das filhas gêmeas no colo. Alice e Helena, hoje com 14 anos, riam enquanto o vento da lagoa brincava com seus cabelos — um momento simples, quase invisível aos olhos de quem passa correndo, mas que revela algo profundo: a vida de uma atriz que nunca deixou de ser mãe, mesmo sob holofotes de Rede Globo.

Uma mãe aos 46, uma atriz aos 60

Quando as gêmeas nasceram em 7 de abril de 2011, no Hospital Perinatal de Laranjeiras, Betty Gofman já tinha quase duas décadas de carreira. Aos 46 anos, era uma das atrizes mais respeitadas da TV brasileira, acabara de encerrar a novela Ti-Ti-Ti — onde interpretou a excêntrica “Help” — e enfrentava o desafio de equilibrar os papéis de artista e mãe em uma idade em que muitas mulheres já consideram o fim da fertilidade. O parto foi registrado com precisão: Alice, nascida primeiro, pesava 2.350 gramas e media 46 cm; Helena, um minuto depois, 2.410 gramas e a mesma altura. Ambas estavam saudáveis. E, em uma decisão rara para a época, os pais decidiram armazenar as células-tronco do cordão umbilical, por meio da empresa StemCel, em São Paulo e no Rio.

Hoje, com 60 anos completos em março de 2025, Betty ainda aparece nas telas. Em agosto daquele ano, em entrevista ao O Tempo, disse com um sorriso: “Me sinto uma menina”. A frase, simples, carregava mais que nostalgia — era uma declaração de resistência. Ela não queria envelhecer como se fosse um erro. Queria viver, atuar, cuidar das filhas, andar na lagoa.

Medéia: o fim de uma personagem... ou só uma pausa?

A novela Êta Mundo Melhor, da Rede Globo, trouxe à tona um dos capítulos mais dramáticos da carreira de Betty nos últimos anos. Sua personagem, Medéia, irmã de Quinzinho (Ary Fontoura), descobre que um mapa de diamantes — objeto de desejo de Cunegundes (Elizabeth Savala) — não lhe daria nada. Em um ato de desespero, devora o documento. O resultado? Foi internada à força em um hospício. Cenas fortes. E, segundo o Portal de Prefeitura, ela teria saído da trama.

Mas aqui está o twist: em 11 de agosto de 2025, o O Tempo confirmou que Betty ainda estava no elenco. Isso não é erro. É a realidade da TV: personagens voltam. Ainda que a história tenha parecido finalizada, o público nunca sabe se o que foi visto foi o fim — ou apenas um intervalo. Talvez Medéia tenha fugido do hospício. Talvez esteja escondida em algum vilarejo. Talvez, só talvez, tenha sido um golpe de roteiro para manter o mistério.

Entre o palco e o berçário

Entre o palco e o berçário

Betty Gofman não é apenas uma atriz. É uma mulher que escolheu caminhos incomuns. Nos anos 1990, apresentou esportes no Tá na Área da SporTV — algo raro para mulheres na época. Foi a primeira a cobrir a Copa de 1998 e os Jogos Olímpicos de Sidney em 2000 com a mesma autoridade de um homem. Depois, virou Anita Malfatti em Um Só Coração, interpretando a pintora modernista com uma intensidade que deixou críticos sem palavras.

E, entre os papéis, ela criou uma vida paralela: três cães Whippet, todos registrados na Confederação Brasileira de Cinofilia, e um refúgio temporário para animais abandonados nos bairros da Zona Sul do Rio. Seu sonho de criança? Ser veterinária. Mas a irmã, Rosane Gofman, entrou na atuação primeiro. E Betty, como sempre fez, seguiu o próprio ritmo.

Uma família no coração do Rio

Uma família no coração do Rio

Ela vive com o marido, o filósofo Hugo Barreto, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e as filhas em uma casa tranquila, perto da Lagoa. O lugar onde hoje passeiam é o mesmo onde, há 14 anos, ela caminhava com os bebês recém-nascidos no colo — e onde, provavelmente, hoje elas se encontram depois da escola, sem celular, sem pressa.

A história de Betty não é de glória. É de persistência. De escolhas. De não se deixar definir por idade, por papéis ou por notícias que dizem que ela “saiu” de uma novela. Ela apenas continua. Como mãe. Como atriz. Como mulher que, mesmo aos 60, ainda se sente uma menina — e não quer ser outra coisa.

Frequently Asked Questions

Como Betty Gofman equilibra carreira e maternidade aos 60 anos?

Betty Gofman mantém um ritmo de trabalho que prioriza flexibilidade: gravou Êta Mundo Melhor em horários que permitem estar com as filhas durante a tarde. Ela evita viagens longas e recusa papéis que exijam ausência prolongada. Seu marido, Hugo Barreto, e a rede de apoio no Rio ajudam na rotina. Além disso, ela mantém um horário rígido para os momentos em família — como os passeios na Lagoa Rodrigo de Freitas, que viraram ritual semanal.

Por que a decisão de armazenar células-tronco das gêmeas foi considerada rara em 2011?

Em 2011, o armazenamento de células-tronco do cordão umbilical era ainda um procedimento caro e pouco acessível no Brasil, com custos acima de R$ 10 mil. Menos de 2% das famílias brasileiras optavam por isso, e muitos médicos questionavam sua utilidade prática. A escolha de Betty e Hugo, com apoio da StemCel, foi vista como um gesto de prevenção futura — e um sinal de que a classe média alta começava a investir em saúde preventiva, não apenas curativa.

Qual foi o impacto da personagem Medéia na carreira de Betty Gofman?

Medéia foi uma das personagens mais complexas da carreira de Betty na TV. A cena em que devora o mapa foi aclamada pela crítica e gerou milhares de menções nas redes sociais. Embora tenha havido rumores de saída, a ambiguidade da personagem — entre louca e revolucionária — reforçou sua imagem como atriz capaz de encarnar conflitos humanos profundos. Isso a tornou ainda mais valorizada por roteiristas da Rede Globo, que a mantiveram no elenco mesmo após o suposto fim da trama.

O que a entrevista de Betty em 2025 revela sobre a percepção da idade na indústria cultural?

Quando Betty diz “Me sinto uma menina”, ela desafia o estigma de que mulheres acima de 50 não são mais atraentes ou relevantes na TV. A indústria costuma substituir atrizes por jovens, mas ela se recusa a se aposentar. Seu caso é um exemplo de que a experiência e a autenticidade podem ser mais poderosas que a juventude. Isso inspira outras atrizes de sua geração a reivindicar papéis mais profundos — e não apenas de mães ou avós.

Por que a Lagoa Rodrigo de Freitas é tão importante para a família Gofman?

A lagoa, com seus 2,4 milhões de metros quadrados, é um dos poucos espaços públicos no Rio onde famílias ainda podem caminhar sem barreiras. Para Betty, é um refúgio contra o caos da cidade e da mídia. Ela levou as gêmeas lá desde os primeiros meses de vida. Hoje, é o lugar onde elas se reúnem depois da escola, onde conversam sem pressa. É um símbolo de continuidade — e de uma vida que, apesar dos holofotes, segue simples.

Como o passado de Betty como apresentadora esportiva influenciou sua atuação atual?

Apresentar esportes na SporTV entre 1996 e 2002 exigiu disciplina, postura e capacidade de falar com naturalidade diante de câmeras — habilidades que ela levou para a atuação. Ao contrário de muitas atrizes que vêm da dramaturgia, Betty aprendeu a ser autêntica em frente às câmeras antes mesmo de interpretar personagens. Isso explica por que suas cenas em Êta Mundo Melhor têm uma credibilidade quase documental — ela não está fingindo. Ela está vivendo.